terça-feira, 31 de janeiro de 2012

Eirene e Pluto

Reconstituição da Ágora - Athenas
"[1.8.2]Depois das estátuas dos eponymoi(11) vem as estátuas dos deuses, Amphiaraus, e Eirene (Paz)carregando a criança Pluto (riqueza). Ali, em pé, está a figura em bronze de Lycurgus, filho de Lycophron e de Callias, quem, para muito dos Athenienses, trouxe a paz entre gregos e Artaxerxes, filho de Xerxes.(...)”

Figura 1 -
Cópia romana em mármore
Em comemoração, a paz estabelecida entre Esparta e Athenas, Cefisódoto esculpe Eirene – personificação da paz – carregando em seu colo Pluto – Riqueza – no qual, segundo Pausânias, se encontrava na Ágora Atheniense.

Nada mais justo que identificá-la dissociada das irmãs, lhe dando um total destaque, como aquela que trás a quem por dádiva, a riqueza e prosperidade.

Em posição descontraída, apoia seu peso na perna esquerda, o mesmo lado que segura a criança, tendo a  perna que está levemente flexionada um certo equilíbrio ao segurar, o que seria uma espécie de báculo, na mão direita.

A cabeça levemente inclinada para frente, de modo a observar a criança, completa uma posição quase em “S” – (figura 2).

Figura 2

Assim como a maior parte das esculturas do classicismo, a cabeça da escultura de Eirene é a sétima parte do corpo – (figura 3).

Proporção real do corpo humano, assim como seu rosto, dividido em três parte iguais, equivalentes a testa, nariz, boca e queixo – (Figura 4).

Figura 3
A expressão serena em seu rosto demarca bem sua representação, onde está bem delineadas as zonas onde se localizam as sobrancelhas em uma linha pouco curvada, dando a ela a expressão calma pretendida da paz e momento de confraternização. Ainda com a linha recta que se estende do topo da testa até a ponta do nariz, acentua muito pouco o nariz grego exposto, em contraste com a perfeita profundidade dos olhos, demarcando bem a linha das pálpebras, demonstrando a noção de cílios, assim como a posição dos olhos. O nariz afilado esta proporcional ao resto do rosto, assim como a grossura dos lábios, que em um esboço de “pouco sorriso”, ou principio do que poderia ser um sorriso, demarca o restante do rosto, em uma contracção natural de onde ficariam os músculos das bochechas e maçãs do rosto. O queixo arredondado, condiz em harmonia com o formato do rosto e o restante, que não lhe dá uma expressão infantil, mas de uma jovem em estado de graça.

Figura 4

O cabelo com os cachos bem definidos, são presos em cima, na frente, por um objecto que possivelmente era em ferro, puxado para trás, deixando a parte de baixo meio solto a cair sobre os ombros – (figura 5).


Figura 5

No topo da cabeça, a ondulação do cabelo é bem definida em cortes, que demarcam a profundidade de onde passam os fios que são presos, perfeitamente, no penteado mais baixo que tapa metade da orelha proporcional ao conjunto que a cerca.

Sobre o corpo, Eirene tem uma túnica marcada de pregas que dão a entender um tecido pesado. Esta túnica, que provavelmente deixara de ser utilizada desde os finais dos século VI a.C, mostra bem os detalhes de um alfinete que prende a frente e as costas no topo dos ombros – (figura 1) – e um cordão que prendia o tecido, que por norma, era maior em comprimento e mais largo que o corpo que o comportava, deixando que um grande amontoado de tecido se mostrasse, cobrindo aquilo que o prendia a cintura.

No braço esquerdo carrega cuidadosamente a criança Pluto, que em tudo, diferente do que se notava em outras esculturas de crianças, se mostra em aproximação real do infantil.

Figura 6 (esquerda) - Dionysos nos braços de Hermes/ Figura 7 (direita) - Pluto nos braços de Eirene 
Como mostra a figura 6, o comportamento frustrado de um movimento leve, no qual tenta tocar o rosto da figura maternal é sustentado por um expressão de inocência.

Não que este tenha expressões nítidas, ainda não bem copiadas no período clássico, mas, seu rosto mais gordo, nariz e boca pequenos junto com os olhos proporcionais, delineando bem a posição do olho em relação a pálpebra, demonstram sua infantilidade.

Assim como os cabelos de Eirene, os cachos de Pluto são bem definidos, não lembrando em nada um cabelo em cortinas. Prendendo os cabelos na cabeça está um enfeite que se assemelha a um cordão ou possivelmente um objecto em ferro ou objecto duro. O topo do cabelo têm cortes que mostram a ondulação e profundidade de alguns fios bem presos pelo objecto em volta.

Seu corpo, também, diferente da concepção de beleza da época, mostra contornos mais cheios, onde nas partes comuns ao movimento pretendido, mostram-se dobras da carne.

Sobre as pernas da criança um pedaço de tecido, que poderia ser a continuidade da túnica de Eirene, ou apenas um complemento, sendo um peplos – de tecido mais leve e escorregadio, que o resto da peça.

Harmonioso em composição e acção, o que chega até hoje são apenas cópias romana em mármore – sendo umas melhor conservadas que outras – tendo ligeiras diferenças.

Como acontece com a inclinação da cabeça, ao olhar para a criança em seu colo, seus atributos, podendo pertencer as duas entidades, por ser símbolo de abundância e boa repartição e a posição das mãos ao segurar o “báculo”, com suavidade, ou firmemente.

Detalhes que em nada atrapalham na percepção de um movimento constante de suavidade e graça.


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(11) eponymoi - estátuas dos heróis





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