Reconstituição da Ágora - Athenas |
"[1.8.2]Depois
das estátuas dos eponymoi(11) vem
as estátuas dos deuses, Amphiaraus, e Eirene (Paz)carregando a criança Pluto
(riqueza). Ali, em pé, está a figura em bronze de Lycurgus, filho de Lycophron
e de Callias, quem, para muito dos Athenienses, trouxe a paz entre gregos e
Artaxerxes, filho de Xerxes.(...)”
Figura 1 - Cópia romana em mármore |
Em
comemoração, a paz estabelecida entre Esparta e Athenas, Cefisódoto esculpe
Eirene – personificação da paz – carregando em seu colo Pluto – Riqueza – no
qual, segundo Pausânias, se encontrava na Ágora Atheniense.
Nada mais
justo que identificá-la dissociada das irmãs, lhe dando um total destaque, como
aquela que trás a quem por dádiva, a riqueza e prosperidade.
Em posição
descontraída, apoia seu peso na perna esquerda, o mesmo lado que segura a
criança, tendo a perna que está
levemente flexionada um certo equilíbrio ao segurar, o que seria uma espécie de
báculo, na mão direita.
A cabeça
levemente inclinada para frente, de modo a observar a criança, completa uma
posição quase em “S” – (figura 2).
Figura 2 |
Assim como a
maior parte das esculturas do classicismo, a cabeça da escultura de Eirene é a
sétima parte do corpo – (figura 3).
Proporção
real do corpo humano, assim como seu rosto, dividido em três parte iguais,
equivalentes a testa, nariz, boca e queixo – (Figura 4).
Figura 3 |
A expressão serena em seu rosto demarca bem
sua representação, onde está bem delineadas as zonas onde se localizam as sobrancelhas
em uma linha pouco curvada, dando a ela a expressão calma pretendida da paz e
momento de confraternização. Ainda com a linha recta que se estende do topo da
testa até a ponta do nariz, acentua muito pouco o nariz grego exposto, em
contraste com a perfeita profundidade dos olhos, demarcando bem a linha das pálpebras,
demonstrando a noção de cílios, assim como a posição dos olhos. O nariz afilado
esta proporcional ao resto do rosto, assim como a grossura dos lábios, que em
um esboço de “pouco sorriso”, ou principio do que poderia ser um sorriso,
demarca o restante do rosto, em uma contracção natural de onde ficariam os músculos
das bochechas e maçãs do rosto. O queixo arredondado, condiz em harmonia com o
formato do rosto e o restante, que não lhe dá uma expressão infantil, mas de
uma jovem em estado de graça.
Figura 4 |
O cabelo com
os cachos bem definidos, são presos em cima, na frente, por um objecto que
possivelmente era em ferro, puxado para trás, deixando a parte de baixo meio
solto a cair sobre os ombros – (figura 5).
Figura 5 |
No topo da
cabeça, a ondulação do cabelo é bem definida em cortes, que demarcam a
profundidade de onde passam os fios que são presos, perfeitamente, no penteado
mais baixo que tapa metade da orelha proporcional ao conjunto que a cerca.
Sobre o
corpo, Eirene tem uma túnica marcada de pregas que dão a entender um tecido
pesado. Esta túnica, que provavelmente deixara de ser utilizada desde os finais
dos século VI a.C, mostra bem os detalhes de um alfinete que prende a frente e
as costas no topo dos ombros – (figura 1) – e um cordão que prendia o tecido,
que por norma, era maior em comprimento e mais largo que o corpo que o comportava,
deixando que um grande amontoado de tecido se mostrasse, cobrindo aquilo que o
prendia a cintura.
No braço
esquerdo carrega cuidadosamente a criança Pluto, que em tudo, diferente do que
se notava em outras esculturas de crianças, se mostra em aproximação real do
infantil.
Figura 6 (esquerda) - Dionysos nos braços de Hermes/ Figura 7 (direita) - Pluto nos braços de Eirene |
Como mostra a
figura 6, o comportamento frustrado de um movimento leve, no qual tenta tocar o
rosto da figura maternal é sustentado por um expressão de inocência.
Não que este
tenha expressões nítidas, ainda não bem copiadas no período clássico, mas, seu
rosto mais gordo, nariz e boca pequenos junto com os olhos proporcionais,
delineando bem a posição do olho em relação a pálpebra, demonstram sua
infantilidade.
Assim como os
cabelos de Eirene, os cachos de Pluto são bem definidos, não lembrando em nada
um cabelo em cortinas. Prendendo os cabelos na cabeça está um enfeite que se
assemelha a um cordão ou possivelmente um objecto em ferro ou objecto duro. O
topo do cabelo têm cortes que mostram a ondulação e profundidade de alguns fios
bem presos pelo objecto em volta.
Seu corpo,
também, diferente da concepção de beleza da época, mostra contornos mais
cheios, onde nas partes comuns ao movimento pretendido, mostram-se dobras da
carne.
Sobre as
pernas da criança um pedaço de tecido, que poderia ser a continuidade da túnica
de Eirene, ou apenas um complemento, sendo um peplos – de tecido mais leve e
escorregadio, que o resto da peça.
Harmonioso
em composição e acção, o que chega até hoje são apenas cópias romana em mármore
– sendo umas melhor conservadas que outras – tendo ligeiras diferenças.
Como
acontece com a inclinação da cabeça, ao olhar para a criança em seu colo, seus
atributos, podendo pertencer as duas entidades, por ser símbolo de abundância e
boa repartição e a posição das mãos ao segurar o “báculo”, com suavidade, ou
firmemente.
Detalhes que
em nada atrapalham na percepção de um movimento constante de suavidade e graça.
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(11) eponymoi - estátuas dos heróis