sexta-feira, 2 de março de 2012

Suavidade e movimento


L

         
         
iberdade de movimentos leves e, naturalidade real, deveriam exprimir o que é a arte a partir do século V a. C – simplesmente o Periodo Clássico.
Antes de mais, como já referido, não cabe analisar outras obras que não sejam de Cefisódoto, mas, sim uma básica explicação na comparação de mais dois mestres para chegar ao pretendido. Assim , Mirón com O discóbolo, não poderia deixar de ser referido: 

Em principal os atletas, que são representado no estado máximo de um movimento do ser humano, em uma reacção equilibrada e cheia de vigor. Como acontece no Discóbulo de Mirón, que em uma curvatura extrema, de torção e esforço, dobra seus membros no momento em que vai atirar o disco.

Ousado, em relação a técnica, ainda, vigente da frontalidade, O Discóbulo nos deixa a impressão de movimento espontâneo, no qual o acto de lançamento do disco é explícito ao esforço do atleta, mas, a ideia de que o movimento exposto à mente do observador não passa da acção pretendida. Ali, onde o equilíbrio perfeito à anatomia do corpo humano e todo o seu esforço é barrado a simples movimentação brusca.


O disco é lançado com uma força surpreendente do atleta. Esta é a grande ideia, que vaga na nossa mente ao contemplar a magnifica escultura de Mirón. Mas a nossa mente não vaga mais para além desta proeza humana em bronze ou mármore. Ali vê-se a imagem de um movimento instantâneo.
Em contrapartida com aqueles em que a intenção transparece o movimento contínuo. É o que ocorre no apogeu da arte clássica grega, com Policléto.

Ali nos esquecemos de uma movimentação única. É com Doriforos – (Homem da Lança) – entre outras de sua época, que se encontra a ilusão de uma marcha continua.

É este homem nu, que transporta um lança apoiada em seu ombro esquerdo e, que parece caminhar, repousa sobre a perda direita seu peso, enquanto que, a esquerda, apenas com o dedo encostado no chão está um tanto deflectida, demarcando bem a ruptura com a simetria arcaica.

Seu corpo possui um ritmo totalmente novo, mas com uma robustez que – pelo menos na cópia de Nápoles, nos dá em ossos e músculos, o peso de seu material. Uma escultura, que em sua flexibilidade e firmeza, tem uma marcha continua.

O inverso acontece com Diadumeno – (atleta que cinge a fronte com sua fita que é a marca da sua victória). Aqui Policleto retira a robustez do material que é feito, no simples acto do erguer um pouco os braços.

Neste segundo caso a escultura podia exprimir em cada parte do corpo em números – (cálculos em palmas) – Assim como as relações com cada parte.

A acção contínua permanece, mas com mais leveza, mostrando a força do homem e toda a sua excelência física e moral.

Uma dissimetria que causa o impacto de movimento, levando a uma percepção ou não do peso do material de que é feito.

Harmonia e beleza que levava a semelhança dos deuses, que poderia levar a ira destes.

Fidias, mostra nos frontões, métopas e em escultura avulsas a imagem dos deuses e sua leveza, tanto fisíca como majestosa em movimento das roupas – que transparentes ou não – esvoaçam conforme a contorção do corpo e sua acção.
A forma divina, humanizada, se espalha nos locais sagrados como o Parthenon em Athenas ou o Templo de Zeus em Olímpia.
As divindades, a semelhança dos homens, mas, digna de superioridade na leveza e harmonia.
Eirene, divindade querida entre homens e Deuses, conserva em si a leveza digna e harmonia em movimento.
Assim como na escultura de Policleto, Eirene se apoia em uma única perna, relaxando a outra, dando a entender um movimento contínuo, não de marcha, mas de uma situação pacífica.


Seu movimento leve une-se ao modo desgovernado e simples de Pluto, dando ao momento de acção harmonia e leveza natural, que nos faz esquecer do material de que é composta.

Assim como Policleto dá ao seu atleta Diadumeno, a leveza da acção no simples levantar de braços, Eirene tem essa leveza em três pontos específicos: pernas, mão e cabeça. A perna apoiada em contraponto com a perna relaxada, verga seu corpo para trás, dando como explicado anteriormente, quase uma posição em “S”, enquanto que, a mão direita, segura o “báculo” de forma simples e despreocupada (12), inclinando a cabeça para frente, de modo a observar a criança que tem o corpo torcido, querendo pegar em seu rosto.

Movimento continuo que, faz o observador conseguir captar a intenção de cada personagem por mais tempo que a própria acção.

A leveza necessária para a representação digna de um deus, no qual é quebrado por um único detalhe: sua túnica, que tomo a liberdade de chamar “démodè”.

Com sua ondulação perfeita e pesada, nos recorda tudo o que o movimento leve da deusa e da criança transmite: o material e o peso deste.

Mas qual seria o verdadeiro motivo para essa conjunção entre o presente de Cefisódoto e o passado de séculos retratado na túnica que reveste Eirene?

Não há uma explicação exacta. Apenas que em termos religiosos tem a sua lógica.

Fidias com seus deuses humanizados, leves e superiores em lutas ou em seu quotidiano divino, estavam em locais apropriados, onde determinado deus escolhera para seu templo.

Eirene, Personficação da Paz, fora exposta na Ágora: Local escolhido por Homens, para os Homens.

Tentar representar um deus e igualá-lo a um humano poderia ser desastroso. A estátua de Cefisódoto, em comemoração pela paz com Esparta, não deveria atrair a ira de um deus.

Desta forma, aquela que fora colocada junto dos Homens, deveria ser apenas um símbolo, e não o local de culto da deusa.

A túnica fora de moda poderia ser um modo de lembrar o observador que aquele não era seu lugar-comum, mas uma homenagem pela paz selada.